Quando era miúdo, gostava de ter sido
aviador .
Nunca soube explicar esta pancada, pois eu nunca brinquei
com tais brinquedos, só tarde saí da minha zona de conforto
(Lisboa era então uma miragem), não via cinema, muito me-
nos sonhava com a televisão .
O meu único elo de ligação só poderia ter surgido da imagi-
nação das aventuras do Cavaleiro Andante, a revista da pe-
quenada .
Ainda hoje estou sem saber o porquê .
Aos deis anos vivi algum tempo com os meus Pais, em Lisboa, na
pensão do Gaia e da D. Isabel .
Talvez que alguém me tivesse levado a visitar o Aeroporto de Lis-
boa ( que hoje dá pelo nome de Humberto Delgado ), não sei, mas
é muito pouco provável .
Comecei então a tentar a construir os meus aviões, mas o proble-
ma maior eram as asas, carros e barcos já eu construía bué, de
todos os tamanhos e formatos, com madeira, corcódea, palmeira,
cortiça, mas e o diacho eram as asas...
Foi então que me ensinaram que havia aviões feitos com balsa,
uma madeira leve e fininha, própria para o aeromodelismo, e lo-
go desenvolvi démarches para mandar vir de Lisboa, tal material,
através da Casa Havaneza, uma espécie de bazar onde se vendia
de tudo .
Parte do sonho estava realizado,
só muito mais tarde, quando comecei a trabalhar de Engenheiro,
me foi permitido voar de verdade, a bordo de um SuperConstel-
lation da Tap, para Paris, num outro sonho que então viria a rea-
lizar vezes sem conta .
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