Juntei os cromos das Maravilhas da Natureza, mas nem sequer
cheguei acabar a colecção .
Ainda hoje guardo numa caixinha uma boa parte deles .
Desconheço a razão porque nunca levei a colecção até ao fim .
Foi a minha primeira janela aberta para
o mundo da Arte .
Isso, e os santinhos que a minha família me dava, na esperança
de eu ser um menino bem comportado e frequentasse a Igreja .
Mais tarde, com a leitura das obras de Ferreira de Castro, a Vol-
ao Mundo e as Maravilhas da Arte, conseguia imaginar coisas fan-
tásticas, que me enchiam o espírito e me faziam sonhar acordado .
Talvez que esse facto tivesse contribuído para construir um mun-
do diferente, construído sobre castelos de areia .
Algumas dessas Maravilhas viria a vê-las ao vivo e em tamanho
natural, mas a maioria repousa somente na minha memória .
Na minha terra natal, havia algumas coisas que me fascinaram
toda a vida, a Cabeça da Velha, os Cântaros do Planalto Central
E todo o Vale Geológico do rio Zêzere, que ainda hoje visito exta-
siado e com muita emoção .
Recentemente fui passear á Espanha, na região de Huelva,
e tive a oportunidade de visitar as grutas de Aracena .
Fiquei esmagado com a beleza contida nas inúmeras galerias que
as integram, umas em forma de Catedrais, de Lagos extraordiná-
rios, formas e volumes, côres e estruturas inimagínáveis, forma-
das ao longo de muitos séculos .
A última gruta é sobre o corpo humano, uma coisa de estarrecer .
O meu grande espanto é ver que dois objectos formados há mil-
hões de anos, um esculpido por células vivas e que constitui uma
parte muito importante do corpo humano e uma outra, réplica,
em tudo semelhante, formada pelo escorrimento de águas cal-
cáreas .
Mistério insondável .
.