comprando e vendendo grandes propriedades, transferir e em-
pochar grandes somas de capitais e papel comercial,
do que esgravatar e arrotear a terra, cultivá-la, semeá-la, co-
lher-lhe os magros proveitos e distribuí-los por toda a gente,
mesmo que essa terra fosse de quem a trabalha .
Bonito slogan herdado do século passado .
Mas nem isso acontece .
As propriedades têm dono, mas ninguém parece vir reclamá-las .
Há quem por elas verta o seu suor e o seu sangue .
Falam estes doutores da mula russa, políticos, advogados, perio-
distas e financistas, mas eles de terras não percebem nada .
nunca virame empunharam uma enxada ou um sacho, nunca cons-
truíram um muro, nem regaram couves e alfaces, nem arrancaram
batatas .
É como se os bens agrícolas e florestais não tivessem, nem preço,
nem custo .
Estão disponíveis para quem os agarrar por tuta e meia,
e depois por os vender por bom preço nas grandes redes de super-
mercados ligados a grandes empresas internacionais .
Esses novos donos disto tudo deviam ser amarrados a um cabresto,
presos à nora, e andar com eles a puxar água do poço, durante uma
semana .
Toda esta problemática tem a ver com o abandono das zonas rurais,
o não tratamento das florestas, e com os fogos nas matas portugue-
sas .
Estou revoltadíssimo .
Já fujo das televisões todas, só ao fim da tarde consigo ver um pouco
deste espectáculo degradante, ver o País a arder impunemente, sem po-
der acudir a tal desgraça colectiva .
Passar vezes sem conta, sem qualquer pudor, o horror espelhado no ros-
to da gente simples da minha Beira, habituada a sofrer quotidianamente
sem protestar .
É a vida .
É o destino .
É a morte disfarçada .
Há gerações e gerações que o Povo foge para bem longe, para as cida
des, para o estrangeiro, para o fim do mundo, para angariar o seu sus-
tento e o das suas famílias .
O seu sonho
era guardar algum provento que sonhava enviar para a Terra,
e acabar os seus dias no lugar onde nasceu, junto ao pomar e à horta,
revisitando os netos, até um dia poder descansar em Paz .
E tudo o fogo levou
umas vezes porque o clima endoideceu,
outras vezes porque mão assassina, traiçoeiramente, o desencadeou .
Portugal evolui muito nas últimas décadas, mas continua sem poder
resolver os problemas mais vulgares com que a gente simples da maior
parte do território se depara .
É bonito .
É bué de bom .
Mas será este o progresso a que o meu País aspira .
Ajudar os países estrangeiros a fazerem o trabalho
que deveria ser feito por nós, na nossa terra?
Tenho sérias dúvidas .
.
A esta dúvida existencial,
vêm somar-se muitas outras causas e razões, que todos, à uma, vêm repetindo
em bicos de pés, almejando cada um subir mais alto do que os outros, como os
galos a fazer cocoricó .
A seguir, começa a cair a chuva .
O Inverno a chegar .
E depois, mudam -se um pouco,
e tudo fica na mesma .
.
Sou uma pessoa com fortes ligações á Terra, e em cada fogo ardo mais um pou-
co, ao assistir ao espectáculo do País a desaparecer de repente .
Assim que se falou que a chuva poderia fazer o seu aparecimento, logo se multi-
plicou o número de ignições, muitas delas provocada por mãos assassinas .
Já apanharam centenas de pessoas a lançar o fogo, são conduzidas à polícia, e
são libertadas na hora, provavelmente depois de tomarem um chàzinho e leva-
rem para casa de brinde, um pauzinho ou mesmo uma caixa inteira de fósforos,
amorfos como se diz em linguagem mais técnica .
Vê-se que são pessoas experimentadas e com uma formação pirómana e amigos
do ambiente .
E todos os anos é a mesma palhaçada ...
Será que não é crime destruir pessoas, cabeças de gado,casas, utensílios de lavou-
ra ?.
Se são malucos, levem-nos para os hospitais .
Se têm um mínimo de sanidade, ponham-nos na
cadeia .
.
Mais de cem mortos em 4 meses,
é uma guerra .
Se é um show de televisão, tudo bem .
Um triste e macabro Reality Show .
Se é de guerra que estamos a tratar,
então temos que nos prepara e treinarmos para um combate, sem
tréguas, e de longa duração .
E, desta vez, não estou a brincar, nem a exagerar ,
.