sexta-feira, 6 de outubro de 2017

O HORROR AO SILÊNCIO .

Por vezes, o silêncio é tão ensurdecedor que até dói, e só o 
ruído o pode sarar .

Cheguei a estar ao pé de dezenas de teares, com as lançadeiras 
a chocar com toda a violência nos batentes, de um lado para o 
outro, e conseguíamos ouvir conversar entre nós, como se esti-
véssemos a contar segredos .

Não fiquei um pouco surto, por passava pouco tempo na fábrica .

Noutras ocasiões, recordo-me das muitas noites que passei pelos
hospitais, noites enormes, sofridas, cheias de insónias, em que me
doía até o tilintar de uma colher ou o arrastar  dos pés, perturban-
do o descanso a que tinha direito .

Se a esse silêncio se juntasse a escuridão da noite, consegue com-
preender-se o horror da estadia prolongada numa enfermaria de 
hospital .

É uma libertação, quando a luz do dia vem devagar penetrar na 
jane-la do quarto,e se começa a ouvir o barulho das conversas 
apressadas e o ronco do aspirador, marrando ao acaso nas pare-
des do quarto .

Só então engatamos no sono profundo, 
mas logo depois começa a distribuição dos comprimidos e começa
a sentir-se o cheiro da manteiga e do pão torrado .

Escapámos mais uma noite ao horror do silêncio .
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