Qual o horrendo crime pelo qual fui condenado às galés ?
Crime de sangue ? .
Crime de Morte ?
Que delito terrível ditou o degredo, e me conduziu às chamas
do inferno ?
Que grave ofensa conduziu às trevas, à desgraça, ao esque-
cimento, como se de um reincidente celerado, com penas
antigas e continuadas se tratasse ? .
Afinal é tudo assente em sentimentos falaciosos, uma mistu-
ra de falsas sensações mal assimiladas e até carregadas de
inseguranças e receios infundados .
Os ferimentos físicos doem, mas tratam-
se no doutor .
Os ferimentos psíquicos e morais, esses sim,
deixam cicatrizes para sempre e magoam
para toda a vida .
Como é ténue a confiança entre as pessoas,
como é frágil a bondade e o carinho como somos tratados .
Como é efémero este mundo onde nos agitamos,
basta um gesto mal calculado, uma palavra distorcida no con-
texto, e aí surge a tempestade, que irrompe violentamente ás
primeiras rajadas de vento agreste e ao ribombar dos trovões
que iluminam o astro .
Mas. como na música de Bethoven, depressa tudo acalma e
recomeça o doce cantar da passarada,
e o sol recomeça a brilhar .
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