Estou constantemente a regressar à minha infância, uma e outra
vez, vezes sem conta ,vezes sem conta .
Dizem os mais velhos, que estão tornando à sua meninice, e que é
essa a fase da nossa vida, a que mais nos grava mais fundo a nos-
sa mente .
É engraçado que muitas memórias, muitas histórias, muitas aventu-
ras, vêm facilmente ao espírito, mas as pessoas que me são mais pró-
ximas, por alguma razão inexplicável, são recordadas com alguma
distância e despojadas, por vezes, de grandes afectos .
Fui sempre uma espécie de bom selvagem, a maneira de Rousseau,
era o mundo à nossa volta que ia gravando na fita do tempo, os acon-
tecimentos, bons ou maus, que mais me impressionavam e que eu ia
àvidamente absorvendo, sobretudo aqueles que faziam sobressair o
meu instinto de rebeldia e revolta .
Talvez que a minha conduta se foi estruturando nesse paradigma,
pelo facto de eu pertencer a uma família de vários irmãos, nascidos
a intervalos curtos, uns dos outros .
À medida que um novo membro da família surgia, já há muito que
se havia procedido ao desmame do anterior .
Não havia tempo para grandes desvelos, pois uma nova vida estava
a caminho .
Cada um que chegava, arrumava-se na hierarquia familiar, da ma-
neira mais adequada .
Por sua vez, a família era um conglomerado complexo, com mem-
bros muito diversificados, por vezes era passado, de mão em mão,
de pessoa para pessoa, e em que eu encaixava com alguma dificul-
dade .
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