terça-feira, 19 de dezembro de 2017

DEZEMBRO .

O que mais me prende à vida
Não é o amor de ninguém
É que a morte de esquecida
Deixa o mal e leva o bem 

Dezembro é o mês de todas as desgraças,
negro de breu, de luto e de morte .
Tudo se esconde, até o Sol se apaga, por longas jornadas .
Os pássaros calam-se, para não incomodar os que já par-
tiram

A tristeza invade tudo .

Que importa a Festa , os presentes, as guloseimas, as ra-
banadas, a Consoada, as conversas salteadas, o riso conta-
giante, a fome nunca saciada, e às, vezes um grãozito na 
asa  .
As crianças, é que sonham com o futuro e com a alegria,  
a brincadeira e as gargalhadas que nunca param.
É o tempo é delas .

Os adultos, vivem da nostalgia 
do passado já distante .

Lembram a saudade dos que já partiram, deixando um 
enorme vazio dentro de nós .
Recordam outros Natais, passados à lareira, as crianças
que esvoaçam pela casa adentro, numa correria desenfrea-
da, sem vontade de se recolher ao ninho .

Antigamente, quando era menino, as prendas  vinham pe-
la chamiané dentro e caíam dentro de uma meia, só apa-
reciam de manhã cedinho .
Ainda cheguei a crer no Pai Natal, mas por muito poucos
anosporque ele esquecia-se de mim, e nunca me trazia o 
brinquedo com que levava o ano inteiro a cogitar .

Depois, quando acertaram a hora, passou a despachar-se 
mais, choviam brinquedos aos montes, era quando eu me 
recolhia em silêncio .
Eu estava sempre a querer ir dormir .

A jogatana continuava noite dentro, entre miúdos e graú-
dos, com grande batota à mistura .

No dia seguinte, bem cedo, percorria as ruas, em busca de 
uma bica redentora .
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