O que mais me prende à vida
Não é o amor de ninguém
É que a morte de esquecida
Deixa o mal e leva o bem
Dezembro é o mês de todas as desgraças,
negro de breu, de luto e de morte .
Tudo se esconde, até o Sol se apaga, por longas jornadas .
Os pássaros calam-se, para não incomodar os que já par-
tiram
A tristeza invade tudo .
Que importa a Festa , os presentes, as guloseimas, as ra-
banadas, a Consoada, as conversas salteadas, o riso conta-
giante, a fome nunca saciada, e às, vezes um grãozito na
asa .
As crianças, é que sonham com o futuro e com a alegria,
a brincadeira e as gargalhadas que nunca param.
É o tempo é delas .
Os adultos, vivem da nostalgia
do passado já distante .
Lembram a saudade dos que já partiram, deixando um
enorme vazio dentro de nós .
Recordam outros Natais, passados à lareira, as crianças
que esvoaçam pela casa adentro, numa correria desenfrea-
da, sem vontade de se recolher ao ninho .
Antigamente, quando era menino, as prendas vinham pe-
la chamiané dentro e caíam dentro de uma meia, só apa-
reciam de manhã cedinho .
Ainda cheguei a crer no Pai Natal, mas por muito poucos
anos, porque ele esquecia-se de mim, e nunca me trazia o
brinquedo com que levava o ano inteiro a cogitar .
Depois, quando acertaram a hora, passou a despachar-se
mais, choviam brinquedos aos montes, era quando eu me
recolhia em silêncio .
Eu estava sempre a querer ir dormir .
A jogatana continuava noite dentro, entre miúdos e graú-
dos, com grande batota à mistura .
No dia seguinte, bem cedo, percorria as ruas, em busca de
uma bica redentora .
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