domingo, 31 de dezembro de 2017

É a política, pá ...

Comecei muito cedo a interessar-me pele política,
ou melhor comecei a ter contacto com a injustiça,
a prepotência e a arbitrariedade .
Muito cedo já tinha percebido  provado o sabor da
injustiça e do desamor .
Bem podia o padre da igreja tentar vender aquelas
ideias idiotas que nos tentavam inculcar como va-
cinas, que se practicássemos o bem, íamos direiti-
nhos para o Céu .


Tudo mentira, da grossa ...

Era apelidado de herege, judeu, madrasso, filho do 
diabo, tudo nomes que me assentavam que nem uma 
luva .

Foi então que comecei a canalizar a minha raiva e a 
minha revolta, dar um significado à minha rebeldia,
e começar a estruturar a minha personalidade .

Foi com a minha ida para a Escola da Noite, em con-
tacto com os meus colegas mais velho, e provindos de
outras classes sociais, mais proletarizadas, que fui com-
preedendo a dureza das desigualdades e das afrontas
contra os mais desfavorecidos .
Como entender tais maldades, um menino a começar
a fazer-se homem, que estava habituado às lutas entre
índios e cowboys, entre polícias e ladrões, que faziam
o dia a dia, das nossas brincadeiras . 

Comecei a sorver os ideais revolucionários, com a cam-
panha eleitoral do General Humberto Delgado, nos idos
de 1958, quando me apercebi do imenso apoio popular
que o General ia amealhando, fazendo sombra ao velho
Ditador Salazar .

Já então tinha tido contacto com as ideias comunistas, e
com os comunistas reais, que giravam à minha volta, na 
Escola, nas fábricas e na vida real .

O Tortosendo, aldeia fabril paredes meias com a Covilhã,
era uma terra de operários da indústria têxtil, de gente 
do Reviralho, oposicionistas convictos, muitos deles afec-
tos ao Partido Comunista, contra a religião e contra o sa-
lazarismo .

Era conhecida como a aldeia vermelha .

Convivi de perto com a gente das fábricas, mas por falta de
convicção (ou por cobardia), nunca fui engajado para o 
PC, prezava demais a minha capacidade de crítica e o meu
posicionamento individual .

Fui sempre um fiel compagnon de route .
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Foi então que ingressei na Universidade, IST, colheita de
1960 . Estive 10 anos no Lar do Técnico, uma escola de vir-
tudes, entre o Curso de Engenharia e a Tropa.

As Associações de Estudantes eram Universidades parale-
las, que nos ajudavam a abrir os olhos para a vida .
Militei nelas em diversas actividades, mas sempre com o cui-
dado de evitar a militância política .

Encostei-me ao MDP/CDE, 
uma bengala do PCP . 

Foi no Movimento Estudantil, onde vivi com paixão, muitos 
dos melhores momentos da minha vida .
Era decididamente o olho do furacão, onde tudo acontecia .

Quando o meu Pai me levou para arranjar um quarto para
viver, quis o destino que me tivesse depositado directamente 
no Lar da AEIST . Chegava a passar quase 24 horas no IST,
onde estudava, comia e dormia .Só saía do recinto, para me
deslocar da casa, para o estudo .

Voltei a direccionar a minha revolta, agora contra o Regime
Fascista, agora com a cabeça um pouco mais arrumada .

Era um aluno médio, sem grandes rasgos de inteligência .

Cumpria os serviços Mínimos .

O meu combate pela Liberdade nunca esmoreceu .
Aguardava que chegasse o tempo certo, para que se tornas-
se realidade .

E ele chegou com o 25 de Abril .
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