sábado, 13 de janeiro de 2018

Aguarelas - 6 .

A HORA DO RECREIO .

Continuo a ser o miúdo sentado no canto da sala de aula,
hoje sòzinho, meditando e recordando a névoa das minhas
memórias .
Adquiri o hábito da toupeira, de farejar no escuro e tentar
recuperar pedaços do passado .
Acho que o futuro não existe e o presente já passou .

E regresso sempre ao cantinho da minha escola ( quantas 
escolas eu percorri, ao longo da minha vida, e o sentimento
era sempre o mesmo ) .

A minha vida sempre esteve entalada  entre a brincadeira 
do Colégio e a rigidez da Escola Industrial, mas havia contu-
do um espaço muito especial para o sonho e para a aventura .

Felizmente que nasci no dia de Santo António, nativo do si-
gno Gémeos, e sempre aguentei bem a ambiguidade do meu 
espírito repartido .

Depressa aprendi a misturar as côres, como depois me ha-
bituei a misturar os factos, as memórias e os sentimentos .

Como eu gostava de juntar um pouco de água e ver as côres 
a fundir-se umas nas outras, e iam desmaiando lentamente,
baralhando entre si .


Verifiquei que a vida não apresenta só uma côr, nem é a pre-
to e branco, mas permite-nos apreender a riqueza e varieda-
de dos imensos matizes que se apresentam no dia a dia .

Talvez que aí residisse o fascínio das 
aguarelas .
.

Nunca me propus a tirar um curso para pintar aguarelas .

Tentei uma vez, com a Professora Bárbara, nos Serviços Sociais
do Ministério das Finanças . Mas depressa desisti, eu e ela não 
nos conseguíamos entender .

Aprendia vendo os desenhos expostos em galerias ou em Mu-
seus . Ainda por cima as técnicas são diversas e dependem mui-
to do jeito pessoal . E quando começo a tentar encontrar um ca-
minho, perco-me de imediato .

Pode-se começar pelo guache e ir diluindo as tintas, mas o efeito
não consegue abafar o sujo no papel .

Pode-se usar outros pigmentos, como é o caso da tinta da China, 
o Vioxene, o café , e até sangue . ( Já vi uma exposição feita a san-
gue, o que não deixa de ser um processo um pouco tétrico .) .

Fiz algumas paisagens com tinta de escrever, partindo do tom ori-
ginal, e ir diluindo depois, uma ou mais vezes, até atingir o efeito 
desejado .

Conseguem-se bons efeitos de côr, partindo de 2 ou 3 manchas de 
côres muito diferentes, e depois, inclinando o papel e rodando em 
váias direcções, permitindo a sua progressiva mistura .
O efeito pode ser ampliado, se o trajecto das tintas for encontran-
do obstáculos de papéis coloridos no caminho .

Depois existe uma multitude de processos, usando as colagens de
diferentes materiais, já pintados ou não .

A imaginação não conhece limites .
.