quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O MILAGRE DA NEVE .

Fui ver
A neve caía 
Do azul cinzento do Céu
Branca e leve branca e fria
Há quanto tempo a não via
E que saudades Deus meu

Era dia feriado na terra, sempre que a neve vinha alumiar a
escuridão da nossa vida .
A malta tinha direito a umas horas de folga, faziam-se grandes
batalhas de neve, atirando bolas uns aos outros .
O professor carrancudo, transigia com a miudagem .
Também ele, sentia os olhos embaciados pela nostalgia dos tem-
pos vividos na sua aldeia natal .

As crianças corriam desvairadas, todas molhadas pela neve que
se metia pelo corpo dentro e pelo suor de tanta correria .
As mãos geladas e vermelhas já doíam, não se sentiam, mas nin-
guém arredava pé, uns atrás dos outros, numa loucura que se pe-
gava aos adultos, espantados por tal dádiva da Natureza .

Há anos, muitos anos, que não a agarro com as mãos, não cons-
truo os bonecos de neve, com uma cenoura e duas pedras a fazer
de caraça, com o cachecol a embrulhar o paspalho plantado junto
à berma da estrada .

Quando a neve regressa em força, ficamos a olhar a janela, a ver
os flocos de neve a flutuar, desenhando paisagens fabulosas, os ra-
mos cobertos de neve, as árvores transformadas em figuras huma-
nas, em monstros, ou em tudo que a nossa imaginação consegue al-
cançar .
E olhamos espantados o milagre da neve, como nas paisagens ma-
maravilhosas das caixas de chocolates .

Depois a neve vai derretendo lentamente e, quando acordamos no
dia seguinte, o sonho desvanece-se, e a vida retoma o decurso nor-
mal .
.