quarta-feira, 17 de março de 2010

POEMA de JOSÉ RÉGIO.

SONETO

Surge Janeiro frio e pardacento,
Descem da serra os lobos ao povoado;
Assentam-se os fantoches em São Bento,
E o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
Cresce a miséria ao povo amordaçado;
Mas os biltres do novo parlamento
Usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
Certo santo e pupilo de Loyola,
Mistura de judeu e de vilão,

Também faz o pequeno "sacrifício"
De trinta contos - só! - por seu ofício
Receber, a bem dele... e da nação.

Soneto (quase inédito), escrito numa reunião de antigos
alunos, em 1969.

Os tempos são outros mas, como disse Lampedusa, tem
que mudar-se alguma coisa, pare tudo ficar na mesma...
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