quarta-feira, 24 de março de 2010

PUXAR O FIO À MEADA.

Quando era puto, era muitas vezes caçado , por uma das minhas
quinhentas tias, para ajudar a enrolar os fios das malhas para
fazer camisolas.
Puxar o fio, desenriçar a meada.
Acontecia que, não raras vezes,ou porque a lã já fosse velha, ou
reutilizada, os os novelos estivessem muito mal arrumados, escol-
her a ponta certa para continuar, era uma chatice daquelas.
E eu, que era um miúdo travesso, que não parava quieto...
Tinha que gramar tal tortura.
Sentia-me mal, quase sufocava.

Assim me sinto eu agora.
Com as linhas todas trocadas, embaralhadas.
As malhas roídas, cheias de buracos, as camisolas puídas e a mos-
trar batatas.
A precisar de conserto.
É preciso muito cuidado para escolher o fio certo, porque senão tu-
do vai ser desmanchado, e tem que se começar do princípio.
Alguma das linhas vai quebrar.
Não encontro nenhuma solução.
Não vai ser fácil proseguir o trabalho nestas condições.

Como era ingrato ser puto naquele tempo...
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