Quando era miúdo e vim para Lisboa, pela primeira vez,
fazia-me muita confusão ir à Baixa, e ver tanta gente na
rua, correndo apressada, de um lado para o outro, aparen-
temente sem fazer nada .
E era assim, no Rossio, nos Restauradores, na Praça da
Figueira, e por aí, sítios que constituíam o meu mundo .
Que fazia aquela gente na rua ?.
Nasci numa vila serrana, com muito frio no Inverno,
as pessoas a malhavam-se nos seus afazeres e à lareira .
( Parece conversa da Cidade e as Serras, do Eça ...).
Por isso , quando cheguei à Capital,
(Lisboa, Capital, República, Popular ... )
fiquei espantado com aquele formigueiro todo, atravessando
as ruas sem parar, vezes sem conta .
Desconhecia eu, a vida secreta dos cobradores, dos emprega-
dos dos escritórios, dos bancos, dos armazéns, das lojas, das
tascas, dos cafés, dos restaurantes, e outra gente que passava
o dia a cogitar negócios e jogadas, umas reais, outras imaginá-
rias, ou que simplesmente iam pousando de banco em banco
de jardim, em busca de encontrar aventura ou um solução de
vida,
O Terreiro do Paço, não tinha lojas,
( tinha o Martinho da Arcada, posto avançado de Fernando
Pessoa, que intervalava poemas com bagaços, e uma passas
bem sorvidas),
mas tinha os Ministérios, imensos, com imensa gente a tratar
dos negócios do País,
e havia a Bolsa, com imensa gente a tratar dos negócios da al-
gibeira.
E aquele carrocel girava sempre sem parar, pelo menos até
a maralha ir almoçar descansadamente, no João do Grão, e
em muitas outras casas, espalhadas por toda a Baixa .
Havia, finalmente um pouco de trégua, onde os Lisboetas
faziam trabalhar as bocas, sequiosas de alimento e de paleio .
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