quarta-feira, 6 de julho de 2016

O MEU RELÓGIO .

Teria eu, os meus 16 anos .

Estudava de dia e de noite, e nos parcos intervalos, fazia
um estágio profissional numa fábrica de lanifícios .

O tempo de trabalho era determinado pelas sirénes de de-
zenas de empresas, antes da faina começar, e no fim da 
mesma .

Para chamar os trabalhadores às suas obrigações, todas 
apitavam 3 ou 4 vezes, numa chinfrineira medonha, não 
fosse o trabalho azedar .
A revolução industrial tinha começado em Portugal 

Como não tinha relógio, era o barulho ensurdecedor dos
teares que regulava o meu horário de trabalho .

Um dia, deixei de escutar o matraquear das maquinas, 
fui-me embora, em busca do almoço .

O meu pai cruzou-se comigo no caminho e deu-me uma
grandes descompustura e um par de tabefes, julgando que
eu me estava a baldar às minhas obrigações .

Reagi com grandes protestos, e tentei explicar o acontecido .

Afinal, tinha faltado a electricidade .

O meu pai desculpou-se, mas eu é que fiquei com as lam-
badas na tromba .

Foi assim que, no Natal seguinte, ganhei o meu primeiro
relógio .
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