Teria eu, os meus 16 anos .
Estudava de dia e de noite, e nos parcos intervalos, fazia
um estágio profissional numa fábrica de lanifícios .
O tempo de trabalho era determinado pelas sirénes de de-
zenas de empresas, antes da faina começar, e no fim da
mesma .
Para chamar os trabalhadores às suas obrigações, todas
apitavam 3 ou 4 vezes, numa chinfrineira medonha, não
fosse o trabalho azedar .
A revolução industrial tinha começado em Portugal
Como não tinha relógio, era o barulho ensurdecedor dos
teares que regulava o meu horário de trabalho .
Um dia, deixei de escutar o matraquear das maquinas,
fui-me embora, em busca do almoço .
O meu pai cruzou-se comigo no caminho e deu-me uma
grandes descompustura e um par de tabefes, julgando que
eu me estava a baldar às minhas obrigações .
Reagi com grandes protestos, e tentei explicar o acontecido .
Afinal, tinha faltado a electricidade .
O meu pai desculpou-se, mas eu é que fiquei com as lam-
badas na tromba .
Foi assim que, no Natal seguinte, ganhei o meu primeiro
relógio .
.