sábado, 9 de julho de 2016

O RIGOR ALEMÃO .

Quando fui para a tropa, em Janeiro de 1968,
levei para Mafra um livro de grande folgo, para
ler nos intervalos dos exercícios militares e nos
tempos de ócio .

Conhecia bastante bem as incidências da IIª
Guerra Mundial, mas chamou -me a atenção a
parte que abordava os crimes nazis .

Tinha comprado um calhamaço sobre A Histó-
ria do IIIº Reich, em francês, e julguei que isso
me iria ajudar a passar aquele estúpido tempo
que podia ter sido usado em coisas mais úteis,
como por exemplo, ajudar a desenvolver o meu
País, lutando contra o atraso físico, psíquico e
material da nossa atrasada sociedade .

À medida que ia lendo aquelas coisas horríveis,
muitas das quais eu nem sequer ouvira falar, fui
começando a ter pesadelos e insónias, de tal modo,
que acabei por levar o livro para casa e escondê-lo
bem longe das minhas preocupações .

Algumas coisas que então li e, muitas outras de
mais tarde tive conhecimento, deixaram-me uma
certeza :
Nunca mais poderia tratar, falar, ouvir, com aquela
gente horrenda, capaz de levar a cabo tão medeo-
nhos crimes .

Como foi possível conceber um projecto de uma fá-
brica em que a matéria prima eram seres humanos e
os produtos finais, cabelo, dentes, jóias, metais, pre-
ciosos, pele humana, sebo e os despojos eram incin-
erados e usados para a construção de estradas .
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