quinta-feira, 30 de julho de 2009

Retomando o passado - O DAY AFTER - V . .


Nota:
Tinha e continuo a ter as maiores reservas àcerca das sondagens.
Elas podem ser manipuladas , de diferentes maneiras.
Servem, em regra, objectivos menos transparentes, e podem
confundir os eleitores.
Já têm, por diversas vezes, condicionado os resultados do escru-
tínio. O caso mais falado, acontecau com a sondagem ilegal, porque
publicada a um sábado, véspera das eleições, aquando das autár-
quicas que deram a vitória se Santana, contra João Soares, por
uma vantagem de centenas de votos.
As questões então levantadas por Mário Garcia, continuam a ter
as maiores actualidade e acuidade.
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The Day After - Comunicação Social & Sondagens

No campo da comunicação social, estas eleições presidenciais ficam marcadas por duas novidades:
A ausência de debates durante a campanha eleitoral;
A publicação de um tracking-pool pelo Diário de Notícias.
A novela dos debates, numas eleições com Cavaco como protagonista, era inevitável.
O professor fez-nos o favor de comparecer aos debates que quis, quando quis, e como quis.
Desta forma, houve debates um mês antes das eleições, antes do Natal e do Ano Novo.
Este facto teve influência nos resultados eleitorais?
Sobre este aspecto, apenas se pode verificar que os dois vencedores do ciclo de debates, Louçã e Soares, atingiram nessa altura os melhores scores nas sondagens e acabaram com os resultados que se viu.
O tracking-pool do DN/TSF/Marktest foi também uma marcante novidade.
Este mecanismo estatístico foi publicado diariamente nestes orgãos de comunicação durante os 15 dias de campanha que antecederam as eleições.Na primeira semana da campanha eleitoral, o tracking-pool da marktest assentou numa amostra de 600 indivíduos, estratificados por quotas. Esta amostra foi sendo renovada diaramente com a realização de 150 novas entrevistas.
Na segunda semana a amostra passou para 1400 indivíduos.Um tracking-pool não é uma sondagem: serve para tentar observar uma tendência.
Contudo, o DN tratou o tracking pool como se duma sondagem se tratasse, com destaque de 1ª página e citações nos restantes orgãos de comunicação social. Até porque, durante estes 15 dias, nenhuma sondagem foi publicada.Ricardo Costa avisava que «o tracking poll é um grande método para quem faz uma campanha (partidos, direcções de campanha, centros de estudos eleitorais) mas não sei se o público percebe as nuances de tantas variações». Verificou-se que a própria comunicação social não percebeu estas nuances. Ou seja, as tendências que 150(!) novas entrevistas podiam revelar, foram lidas como alterações nas intenções de voto.
Graças à disponibilização das fichas técnicas do tracking-pool pela marktest, foi possível detectar fragilidades técnicas do processo de amostragem (aqui, por exemplo).
Até que ponto a publicação de espectaculares alterações diárias contribuiu para a definição de voto dos indecisos?
Pedro Magalhães advertiu no seu Margens de Erro que «poll-driven election coverage squeezes out content that would inform voter's judgment. Poll-driven stories also distort the public's perceptions of the candidates. (...) Candidates are strategists, of course. But the fact that they dramatize their appeals and tailor their messages is nothing new. Such maneuvers are as old as politics itself. What is new is the penetrating intensity with which candidates' activities are exposed, dissected, and criticized.»
A crescente dependência que os orgãos de comunicação (e os próprios candidatos) vão mostrando em relação às sondagens obriga a que, no futuro, haja um maior profissionalismo no tratamento destas questões.
(A marginalização de que Garcia Pereira foi vítima por parte dos media, em especial quanto à sua participação nos debates, não foi, infelizmente, uma novidade.)
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publicada por Mario Garcia @ 10:47 PM 5 Comentários
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