NOTA PRÉVIA
Agora que a poeira do tempo vai assentando,
que a Legistadura chegou ao fim,
e que se prespectivam as eleições legislativas e autárquicas,
tem todo o cabimento, a publicação de um texto, escrito no
Blog "Descrédito", por MÁRIO GARCIA.
O texto revela-nos a sua capacidade para analisar a política
portuguesa, nos tempos que antecederam a chegada de Cavaco
Silva à Presidência da República.
Trata-se de uma crítica severa e profunda, acerca das movimen-
tações dos principais concorrentes às referidas eleições, e aos
resultados que elas proporcionaram.
É um texto longo, que iremos publicar em diversas partes.
BLOG DESCRÉDITO
Terça-feira, Janeiro 24, 2006
The Day After
Estando finda esta maratona que foi a campanha eleitoral das eleições presidenciais, julgo adequado fazer-se neste blog uma calma reflexão sobre os resultados eleitorais ao longo dos próximos dias.
The Day After
Estando finda esta maratona que foi a campanha eleitoral das eleições presidenciais, julgo adequado fazer-se neste blog uma calma reflexão sobre os resultados eleitorais ao longo dos próximos dias.
Da minha parte, vou procurar fazer esta reflexão pelos seguintes blocos:
Cavaco Silva;
Mário Soares;
Manuel Alegre;
Jerónimo, Francisco e Pereira;
Comunicação Social & Sondagens.
Para já, estando lançado o repto para sugestões, lanço uma questão inicial:
Em quem terão votado os anti-soaristas pavlovianos?Em Cavaco ou Alegre?
Nestas eleições presidenciais, a candidatura 'independente' de Manuel Alegre conseguiu mais de um Milhão de votos dos portugueses.
Agora que a campanha eleitoral terminou, das muitas questões que a candidatura de Alegre me suscitaram, gostaria de deixar as seguintes:
1 - Quando Manuel Alegre começou a recolher apoios dentro do PS e a mobilizar o seu aparelho partidário (aquele com que se tinha candidatado a Secretário-Geral do partido) estava muito, pouco ou nada entusiasmado por ser candidato presidencial do PS?
2 - É verdade que Manuel Alegre, quando indirectamente sondado pela Direcção do PS sobre a sua eventual disponibilidade para ser o candidato do PS, se sentiu desconsiderado por ser uma 4ª escolha (após Guterres, Vitorino e Jaime Gama)? Razão pela qual se fez rogado e não deu qualquer resposta?
3 - Quando, em reunião dos orgãos nacionais do partido, de que fazem parte, por exemplo, Manuel Alegre e Helena Roseta, a Direcção do PS apresentou a aprovação do apoio a Mário Soares, por que razão não houve a apresentação de uma candidatura alternativa?
4 - Quem se lembrou de transformar a observação crítica à participação de Manuel Alegre em reuniões do PS onde fosse discutida a campanha presidencial de Mário Soares, num processo de intenção para a expulsão de Manuel Alegre? Helena Roseta, Inês Pedrosa, ou o próprio? Fazia já parte da estratégia de marketing eleitoral para a campanha de auto-vitimização?
5 - Quando Manuel Alegre, no seu discurso de Viseu, concluia que uma candidatura sua apenas iria dividir o PS e o eleitorado socialista (dando a entender que, por esse motivo, não se candidataria) tinha ou não razão? E, na altura, Ana Sara Brito andava já a recolher as assinaturas para a sua candidatura?
6 - Quando Manuel Alegre, no discurso que fez em Águeda de apoio ao candidato do PS à autarquia local, anunciou afinal que sempre iria ser candidato, o que o fez mudar de opinião? E porque razão o fez num acto oficial do PS? Ou seria aquele PS ligeiramente diferente de outros PS's?
7 - Se Manuel Alegre considerava que a sua presença em algumas votações na Assembleia da República não eram compatíveis com a sua condição de candidato presidencial, como foi o caso da votação do Orçamento de Estado, porque razão não suspendeu o seu mandato de Deputado?
8 - O princípio Republicano da renovação, tão caro a Manuel Alegre, é compatível com os seus 30 anos consecutivos enquanto Deputado do PS? O tão criticado aparelho socialista será, porventura, o mesmo que colocou Manuel Alegre em 2º na lista de Lisboa (e não Coimbra) nas últimas Legislativas? E o mesmo que o mantêm como Vice-Presidente da Assembleia da República, com direito a diversas 'republicanas' mordomias?
9 - Se Manuel Alegre, como diversas vezes afirmou, apenas se entusiasmou verdadeiramente com a sua candidatura presidencial quando esta tomou a forma do tal 'movimento cívico', significa que, inicialmente, estaria mesmo disponível para ser candidato pelo PS? Mesmo sem qualquer entusiamo? Apenas por especial favor ao aparelho do PS?
10 - Qual a estratégia de Manuel Alegre nos debates televisivos? Porque razão foi Manuel Alegre incapaz de beliscar Cavaco Silva mas, pelo contrário, não se coibiu de atacar Mário Soares, utilizando argumentos 'políticos' como o das 'sestas' de Soares ou deixando cair a piada dos 'dossiers'?
11 - Porque razão foi Manuel Alegre o único candidato presidencial sempre dependente de sondagens, utilizando as favoráveis como argumento político e procurando descredibilizar todas as outras? Como justificar o vil ataque pessoal que fez a Rui Oliveira e Costa? Porque não fez qualquer comentário à única sondagem verdadeira e manifestamente controversa, o tracking-pool da Marktest? Por lhe darem títulos de 1ª página com base em 150 entrevistas amostrais diárias?
12 - Last, but not the least, porque demorou Manuel Alegre 30 anos a perceber que a verdadeira cidadania, republicana, apenas se exerce fora dos partidos políticos? E se assim continua a pensar, o que ainda o liga ao PS (para além do lugar de Deputado, Vice-Presidente da Assembleia da República, e mordomias associadas)? E porque se fala, entre muitos destacados dirigentes da candidatura de cidadania anti-partidária de Manuel Alegre, na eventual formação de um novo partido político? Ou estarão vários dirigentes do PS com um pé no partido (e alguns na Assembleia) e com outro no tal movimento cívico anti-partidário?
Aceitam-se respostas e sugestões.