Quem vive na aldeia por opção, adapta-se facilmente à rotina
dos usos e costumes estabelecidos ,
Torna-se difícil, a quem está de passagem, adquirir comporta-
mentos e atitudes diferenciadas, sobretudo se a terra é pequena
e não oferece quase nenhuma alternativa ocupacional .
A mudança de local implica muitas vezes com a altura do traves-
seiro, a cor das toalhas, a hora do recolher e do levantar, a hora
das refeições, os programas de televisão, o horário da bola, e tan-
tos e tantos constrangimentos que tornam a vida insuportável até
para um santo .
Com a idade vamos refinando as nossas manias, os nossos peque-
nos-grandes vícios, os nossos anseios e o desejo de ter uma vida
boa e sustentável, tirando proveito das horas de lazer e descontra-
ção que se nos oferecem nestas pequenas escapadelas .
Mas eu estou cada vez pior, refilo com tudo e com nada, aponto to-
dos os defeitos que me vêm à cabeça, discuto a ementa, a quantida-
de de sal na comida . Imaginem que até imponho o número de
mastigadelas para deglutir a comida eficientemente .
Acordo as outras pessoas com grande barulho, ligo a televisão em
altos berros num qualquer programa manhoso, bato com os sapatos
sem qualquer cerimónia, chego a tirar a comida do prato dos outros .
cuspo no chão, meto o dedo no tacho da comida, eu sei lá ...
Um horror .
Que hei-de eu fazer ...
Já me aconselharam centenas de vezes para que eu me comporte co-
mo um cavalheiro, basta olhar para o lado e ver como as pessoas fa-
zem, quando estamos a conviver uns com os outros .
Mas que diabo, não me contenho .
Já experimentei deixar de comparecer às transcendentes reuniões fami-
liares, mas também isso não deu resultado .
Uma melhoriazita aqui ou ali, mas que nada, volto sempre àquela pos-
tura desafiante e agressiva que parece assustar as pessoas, tão certinhas,
tão educadas, tão sensíveis, tão comportadas .
Só pode ser falta de chá ...
Se calhar é isso .
Devo ter caído no pote do vinagre ...
.