quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O PAQUIDERME - 3 .

Já nem os gatos nascem 
com os olhos fechados .

Como os crentes, quando são tocados pela Fé, dizem 
espantados que lobrigavam a Luz,
o mesmo me aconteceu quando vim para Lisboa, para
ser engenheiro .
Aterrei de focinho na terra do Mal, e logo numa casa 
de devassidão, no Lar dos Estudantes do IST, e por lá
fiquei durante dez anos .

Foi a minha segunda Universidade .

Foi então que comecei a descobrir o Mundo à minha 
volta . 
É que o mundo tinha duas faces, tal como a Lua,
a do conhecimento e da aventura, das coisas maravilho-
sas que se passavam à minha volta, e a parte negra e es-
condida, que nos ia mostrando todas as patifarias e mal-
dades da nossa cidade, do nosso planeta, da nossa vida .

Se eu já era um revoltado, cada vez mais fui descobrin-
do o cardápio das misérias humanas .
E compreendi que não era só o Salazar que era um 
monstro . 
A Terra estava pejada de monstros bem mais perigosos
e horrendos .

Descobri que o bem e o mal não era uma questão de des-
tino, ou de trágico maniqueísmo, era o espelho da reali-
dade da vida, que tinha bons e maus, ricos e pobres, co-
bardes e valentes, tal como existiam nas minhas brinca-
deiras de polícias contra ladrões, cowboys contra índios .

E que por um atavismo qualquer, eu calhava sempre do 
lado dos fracos e dos oprimidos, dos pobres e dos índios .

Tinha-se quebrado a magia,

eu que tinha vivido, bem por dentro, a gesta dos vence-
dores da 2ª Guerra Mundial, com os americanos à cabe-
ça, comecei a aprender que o Mundo andava ao contrá-
rio e a história não era assim tão simples como parecia, 
vista com um só
vista só com um olho .

Amanhã, se Deus quiser, 
iremos até ao Trump .
.