segunda-feira, 6 de fevereiro de 2017

A ESCOLA DA VIDA .

Cedo, muito cedo, de calções e bibe, já eu corria a Vila toda, até
onde a minha curiosidade me arrastava .
Sempre fui um bom malandro, refilava por tudo e por nada, en-
trava nas brincadeiras mais parvas, espreitava as pessoas e con-
versava com toda a gente .

Sabia ouvir os outros e ficava espantado com as aldrabices que me
contavam, por vezes não sabendo muito bem, onde começava a aven-
tura, ou a pantominice pura e dura .

Os meus parentes nunca sabiam por onde andava, o que fazia, com
quem acompanhava, as minhas tias, coitadas, passavam o tempo à
minha procura, vou contar ao teu Pai, o teu Avô 
logo ajusta contas contigo ,

E eu ralado .

Foi assim a primeira escola da vida, onde aprendi os nomes feios que
usávamos uns com os outros, mas sem maldade .

Era um sinal de maturidade dizer palavrões, 
Quanto mais fortes, mais impressionava .

Esses, eu não pronunciava em casa, por decoro  e por medo .

Olha que levas pimenta na língua ...

Nas aulas em casa, tinham uma parte importante de ortografia, que
consistia em aprender e decorar os nomes que me chamavam por ter
feito isto ou aquilo .

Grande parte desses epítetos, eu nem sequer sabia o seu significado, 
mas comia com eles a toda a hora : 

Cigano
Judeu
Traste
Mandrião
Pantomineiro
Madrasso
Trouxa
Hereje
Lesma
Olho de vidro
Cara de pau
Sorna
Sonso
Malhadiço
Calhau com olhos
Lingrinhas
Asno
Porco
Toleirão 
Azelha
Patifório
Carraça
Calinas
Caracol
Pisco
Coruja

E tantos outros .

O meu léxico ia aumentando em progressão geométrica.
Quantas mais escolas eu frequentava, e foram bastantes, mais 
palavras aprendia, de tal modo que me tornei um perito em gra
mática e caligrafia .