O PS foi o teu primeiro amor leal
e verdadeiro,
mas o Benfica foi a tua
grande e dolorosa paixão .
Desde que começaste a acertar com o pé na bola, que desataste
a jogar futebol.
Coisas de família, coisas do ADN .
O Avô Plácido foi um jogador semi-profissional nos campeona-
tos regionais . Quando foi trabalhar para Lisboa, vinha a Seia
às festas da Cidade, que incluíam sempre uma espécie de jogo
solteiros contra casados, ou melhor , os senenses locais, contra
os que viviam na capital .
Pela minha parte, o futebol era a disciplina mais importante da
minha escola, com jogos diários organizados pelo nosso profes-
sor primário .
Não admira, pois, que tenhas corrido todos os escalões do jogo,
desde o Jardim das Amoreiras, Colégio Bensaúde, Escola Mar-
quesa de Alorna, Colégio Moderno e Faculdade de Economia,
mais o que jogavas em qualquer parte onde houvesse um bola e
pelo menos um adversário .
Foi quando viemos morar para Telheiras que começaste a levar
as coisas mais à séria, com o equipamento integral do teu grande
ídolo de sempre,
o grande Nené, um jogador que se exibia tão
limpinho, que nunca sujava os calções .
Bom de pés, bom de cabeça, Nené marcou
uma época e influeniou várias gerações de
benfiquistas .
Depois veio a selecção nacional, uma outra loucura, pois que era o
nome de Portugal que passou a estar também nas tuas ambições e,
além disso, incluía sempre grandes jogadores do Benfica, como
Chalana, Diamantino, Rui Costa, Humberto
Coelho, Bento, Luisão, Mantorras, Enke, Pro-
boski, Ricardo, e tantos e tantos outros, que
defenderam as cores nacionais .
Mais tarde deixaste um pouco o jogo para, te afeiçoares perdidamen-
te pelos jogos no grandioso
Estádio da Luz, a imensa Catedral,
onde não falhavas uma partida, especialmente se se tratasse de noites
dos Campeões Europeus .
Cada desafio era combinado ao pormenor com os teus amigos, nada
faltava na decisão, na vontade, no apoio, no equipamento ou nos ca-
checóis .
Tudo parava, não se podia perder pitada do espectáculo .
Quando o jogo era no estrangeiro, tocava a rebate para se organizar
a festa com toda a dignidade, vinha a malta do costume, compravam-
-as pizzas e as bebidas e era uma algazarra ruidosa, que durava várias
horas depois da partida .
Por vezes, tinha que servir-se o fel da derrota,
mas na maioria dos casos, jubilava-se com a vitória, que durava dias a
fio, sorvendo cada lance, cada golo, cada defesa .
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