Por onde tens andado,
que nunca mais te encontrei .
Corro tudo à tua procura, numa busca desvairada, mas
nada, nem sinal de ti, percorro os sítios habituais onde
seria normal ir ao teu encontro, mas nunca estás onde
queria ver-te .
Às vezes, sonho com a tua presença, parece mesmo que
é verdade, mas depois acordo e desapareces-me de re-
pente .
Outras vezes, quase em delírio, levanto-me e vou ao teu
quarto, parece-me ouvir a tua voz, sentir-te virar na cama
ou a mexer em qualquer coisa que tenhas à mesinha de ca-
beceira .
Outras vezes ainda, ao deambular ao acaso pelas ruas da
cidade, que tu amavas como ninguém. parece que te vejo
numa esquina, à mesa de um café, num canto do jardim,
onde corrias de lés a lés, atrás da bicharada, e o jardineiro
corria atrás de ti, pedindo a todos os santinhos que eu te
levasse brincar para outro sítio .
São mais fortes as recordações de infância, das Escolas, do
Colégio Moderno, da Faculdade, do Partido Socialista, do
Benfica e das tuas viagens .
Passo a tua vida a pente fino, as férias grandes com a Avó
Rosa, os passeios com os amigos, um pouco por todo o País,
mas em especial, os passeios a caminho da Ilha de Faro, as
horas infindáveis dos banhos de mar, as tardes mornas pas-
sadas no Havana, os pôr de sol ao fim da tarde, até o ver-
melho do céu quase sangrar, e só então se arrumavas a trou-
xa para o regresso para o jantar .
E as sortidas ao Alentejo adentro, contando pés de girassol,
e arranjando o bilhete de identidade para os animais, as ovel-
has, as cabras, preparando o cadastro nacional, trabalho do
teu projecto IDEA, integrado nos trabalhos da União Euro-
peia .
E agora já não consigo escrever-te mais, porque as lágrimas
não me deixam ver as letras, mas prometo-te que amanhã vou
continuar à tua espera .