Em busca do tempo perdido .
É uma doce ilusão .
Nunca mais de volta a viver o tempo que nunca se viveu .
É curioso que uma destas noites, da uma para as duas, es-
tive a ouvir uma grande conversa com alguém que abor-
dava precisamente este tema .
Olha quem, o professor Júlio Machado
Vaz .
Foi ele que me abriu uma fresta no crânio e me ajudou a
compreender uma parte dos meus problemas .
Falta-me a memória da minha inocência
perdida .
Pode-se tentar compreender essa falha, esse buraco negro,
tentar preenchê-lo com novas incidências, agarrar-se às aná-
lises psicanalíticas .
Esse buraco, ficou buraco
para sempre .
Esse facto ajuda a explicar muito, ou uma parte importante
da minha existência .
Tenho corrido desesperadamente atrás desse intervalo de vida,
para além de que ando sempre a fazer confusões na minha cabe,
ça, teço as mais mirabolantes fantasias, vivo de facto uma vida di-
ferente dos outros, sem esquecer uns grãos de loucura que às vez-
es vou trincando .
A explicação é simples :
Não vivi a adolescência como a outra malta .
Tenho andado, secretamente, à sua procura .
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