terça-feira, 25 de julho de 2017

VIDA DUPLA .

Esquizofrenizado 
entre dois mundos antagónicos .

Aprisionado entre dois estudos, 
mal tinha tempo de me coçar .

Percorria a cidade de cima a baixo, sempre a correr, para conseguir
algum tempo para os meus afazeres, para os meus alfinetes .
Havia sempre ocasiões para inventar um ou outro divertimento .

Praticava todos os desportos, em especial o Futebol, jogava bilhar,
e à noite, por vezes, após a Escola, jogava hóquei em patins, 
mas era no fim de semana que me sobrava tempo para ir sobrevi-
vendo .

E havia as férias, pachorrentas, imensas, chatas como tudo, e então
passeava, lia muito, e arrastava o rabo por aí, a caminho da Estação
dos Caminhos de Ferro, dávamos um salto ao Rio Corja, a fingir que 
tomávamos banho, que o rio ia seco, durante quase todo o ano.
Ou vínhamos pela linha do combóio, atravessando a cidade, vencendo 
as pontes perigosas, que ligavam os vales profundos .

Ou então, vagabundeávamos a esmo, e discutíamos tudo e mais algu-
ma coisa, com opiniões muito diversas e quase sempre antagónicas .

Vivia muito distante dos meus irmãos, com interesses muito diferentes,
e todos com uma vida mais certinha do que a minha.
o mais velho tinha ido estudar para a Guarda .
Os mais novos, crianças ainda, estudavam música e tocavam-na quase
diariamente .

Sempre tive apetência para a actividade musical, mas a vida de transu-
mãncia lectiva, e depois a Escola Nocturna, depressa me fizeram passar
sem ela . 
Tocava acordeão às escondidas, pois tinha um ouvido privilegiado, mas
nunca soube a parte teórica da coisa .

Depois, estava era desejoso de voltar à Escola .
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