Vivi vários anos numa terra vermelha, o Tortosendo, em que
até alguns industriais pertenciam ao Partido Comunista .
Quase toda a gente era simpatizante ou militante, (tudo na
clandestinidade ) .
Ia para o Liceu da Covilhã, de boleia com os filhos dos in-
dustriais, num carro guiado pelo motorista de um desses
ricalhaços .
Saía mais barato pagar a sala de estudos, do que a camioneta
da carreira .
Aí fiz o meu 2º. Ano .
De seguida, fui para
Castelo Branco, onde fiz o 3º. ano .
Posteriormente, a minha família rumou à Covilhã .
Foi então que fui repartido em duas metades,
de manhã pela fresquinha fre-
quentava o Colégio Moderno ;
Á noitinha , ia para a escola da
noite tirar o Curso Industrial .
Como vêem, era simples ...
Comia o bife da alcatra,
ao almoço,
jantava na sopa dos pobres .
Num ápice, mergulhei no mundo do trabalho .
Foi um triplo salto mortal, com duas piruetas à rectaguarda .
Apesar de tudo, o que me servia de cola, era a minha família,
embora já meio desmembrada nessa altura,
e finalmente um casa, junto ao Tribunal da Covilhã e ao pé da
estação do combóio .
Aí se iniciou a minha nova vida .
Saía de casa, por volta das sete da manhã, e regressava por vol-
ta da meia noite .
A minha Mãe preparava-me o jantar às sete, e por vezes deixava-
-me uma chávena de chá, quando voltava para casa .
Não tinha muito trabalho nas aulas, quer de dia, quer de noite .
Talvez nunca tenham experimentado o ensino nocturno .
Ali não há faltas de qualquer natureza . Só as de mau compor-
tamento . A selecção faz-se pelo interesse e sacrifícios que os
alunos demonstram .
Foi uma época fantástica, em certos aspectos, mas muito doloro-
sa noutros .
Percebi o real significado de duas palavras muito importantes :
A SOLIDÃO
A SOLIDARIEDADE .
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