quinta-feira, 22 de junho de 2017

O DESCRÉDITO .

Portugal tinha começado agora a sair muito lentamente
do abismo em que tinha caído,
tentava levantar a cabeça, até já os burocratas de Bruxelas
iam olhando para nós, espantados com os números que o 
Mário Centeno ia cozinhando, sabe-se lá como, e a gerin-
gonça mostrava alguns sinais de boa saúde, habituando-se 
à sua velocidade de cruzeiro .

Aproximava-se o período das férias, dando lugar à desbunda
geral de políticos e de neófitos e já se contavam as notas para 
a miríade de concertos e festivais, espalhados um pouco por 
todo o território nacional .

Álcool, sexo e rock and roll .

Até a nossa mísera oposição tinha baixado a sua fúria fixista,
baixando a crista ( onde é que já ouvi esta palavra ) .

Tudo corria no melhor dos mundos,
quando ocorreu o fenómeno da

trovoada seca .

Quem viveu no campo, mesmo que por pouco tempo, está 
habituado a ler os sinais da natureza .

Longe do bulício das cidades, sente-sa ao longe, a tempestade

a aproximar-se sorrateiramente.
Primeiro instala-se um silêncio de morte .
Nem bichos, nem pássaros bulem, o silêncio corta-se à faca,
parece que a terra para .
O céu vai escurecendo, gradualmente, até assumir o negro o
negro de breu, 
e começa o vento a uivar , primeiro ao de leve, depois como 
um trovão .

De repente, soa um imenso trovão, parece que tudo vai des-

moronar-se . O astro explode e incendeia-se instantaneamente,
como se o sol tivesse surgido naquela escuridão .
E o mar desaba em cima de nós .

Podia ter acontecido assim.


Mas não. 
Faltou a água na natureza .

Os néscios e os tecnocratas, por muito bons, que o sejam,
deveriam saber prever o imprevisível, mas não sabem, apesar de
a meteorologia ser considerada uma ciência (quase) exacta .

É conhecido o facto de uma borboleta, ao bater um pouco as asas
no Oceano Pacífico,
poder desencadear um ciclone, em pleno Oceano Pacífico .
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