quinta-feira, 30 de junho de 2016

A AZÁFAMA .

É muito raro deixar-me dormir até um pouco mais tarde .
A maior parte dos dias acordo antes do sol raiar . 
Hoje em dia é a minha gata, a Branquinha , que me serve 
de despertador .

Quando morava ao Rato, um dos maiores entroncamentos
de ruas e transportes de Lisboa, lá estava eu, à espera que 
abrisse  o primeiro café ou tasca que me servisse o café da
manhâ .

Bom posto de observação, o Largo do Rato, com 10 entra-
das ou saídas, entreposto de autocarros e carros eléctricos,
numa azáfama, com gente, a nascer de todo o lado, e cruzan-
do o Largo, em todas as direcções . 

A minha gente dormiria ainda um hora ou duas, o suficien-
te para eu viajar e cruzar-me com tanta gente, vinda não se
sabe de onde e desaparecendo misteriosamente, a caminho .
de novas aventuras ,

Quando era mais jovem, tinha a mesma sensação  quando
ia à Baixa, sobretudo no caso do Rossio, espreitava aquele
formigueiro, e perguntava-me o que fazia aquela gente toda,
girando de um lado para o outro, sem destino certo .

Então as pessoas não trabalhavam?

Passar férias, não era certamente...

Como sabia ainda tão pouco da vida...

Ao lado, na Praça da Figueira, eu entendia melhor o que se
passava, pois as senhoras passavam apressadas, com os ces-
tos das compras, partindo céleres, a preparar as refeições .

Mas, e os homens, dedicavam-se a quê ?

Só mais tarde fui sabendo, que a maior parte daquela gente
trabalhava no duro para sustentar a família, só que o trabalho
não se via . 

Quantas vezes produzia suor,
ou o magro sustento para acudir às despesas da casa .

E já era uma sorte haver trabalho, 
porque muitos percorriam a cidade, de manhã à noitinha,
trabalhando, em busca de trabalho .
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