Nunca fui habituado a estudar acompanhado ou em
cafés . Não que eu fosse de estudar muito .
Aprendia sobretudo nas aulas, e isso ia dando para as enco-
mendas.
Só na preparaçãodos exames do 7º. ano, que tinha de ir fazer
na cidade da Guarda, é que tive de acelerar um pouco mais .
Então é que tive de estudar a sério, pois o desafio era grande .
Estudar sempre foi uma maçada,
já dizia o Pessoa .
Levantava-me bem cedinho (a cotovia),
e ia estudando pelas ruas da cidade, sem encontrar vivalma e
depois regressava para o pequeno almoço que a minha Mãe tin-
ha deixado à minha espera .
Já em Lisboa,
é que encontrei o mundo mágico dos cafés,
um mix de sala de estudo, tertulia e lugar de descanso e de lazer .
Havia cafés de toda a espécie, para todos os gostos e para todos
os patrões e empregados,
uns para estudar isolado, como num castigo, outros em grupos
barulhentos e na maior confusão, que afugentávamos toda a gen-
te em redor, sobretudo quando se aproximava a hora do almoço .
Cafés finos da alta, com os fregueses à coca de boas gorjetas,
outros mais modestos, que ajudavam a fazer andar um pouco a
máquina registadora . Em regra, eram café ja´mais na periferia
da cidade .
Dos afamados, alguns deram em bancos,
outros em igrejas, outros ainda, lugares de
diversão e pouca vergonha .
Muitos desapareceram, foram à vida, foi
uma vingança do chinês .
Durante a semana, e da parte da noite, não tínhamos grandes
problemas com o acesso aos cafés .
Pior era ao fim de semana, com os estabelecimentos pejados
de gente, curtindo as esplanadas, ou refugiadas no quentinho
do seu interior .
Era então que tinha lugar a peregrinação,
de lugar em lugar, de café em café, de esplanada em esplanada,
sem licença para nos acoitar assentados em frente de uma bica
e com os livros escondidos .
Era um tormento querer trabalhar e não poder,
e, quantas vezes regressávamos ao lugar de partida, sem ter sa-
boreado uma única palavra .
E íamos jantar ...
.