domingo, 26 de junho de 2016

A MINHA TERRA .

Ai, se a terra fosse plana.

Apontava a mira, 
nem precisava de bússola , 
levantava o olhar, e ia por aí fora,
passava os rios, o Tejo, o Mondego, o Dão,  
Zêzere, o Alva,
e, num fechar de olhos, ali estava eu, 
olhando a magnificência da serra da Estrela .

Celorico da Beira, Pinhanços, Nelas, Oliveira do Hospital,
Santa Comba Dão (a terra do Botas), Carregal do Sal, Moi-
menta da Beira, e toda aquela miríade de terras e lugares
que eu percorria na minha meninice, no Citroen arrastadeira,
em que o Senhor Marques dos Santos,  amigo e condutor do
meu tio Luís, africanista e mais tarde, caixeiro viajante, que 
negociava com cafés, amendóins e especiarias, me levava, logo
manhânzinha, percorrendo de tenda em tenda, cafés e restau-
rantes que nunca maia acabavam. 

Tinha que passar pelo  Luso e pelo Bus-
saco, mas como a minha Serra era a mais 
alta de todas, conseguia ver tudo ao longe .

Vista do outro lado da Serra, 
do Cabeço de Santo Estêvão, ficava extasiado com aquele ime-
nso presépio, que varria a Estrela,  desde a Raia espanhola até 
campos de arrôz, que se prolongam de Coimbra até à Figueira 
da Foz, com os milhares de pirilampos que iluminavam todos
os lugares que, a partir dos anos vinte do século passado, dei-
xavam entrar a luz electrica, uma benção só possível  pelas boas
águas e pelo génio e saber de Marques da Sllva, que ia de Gou-
veia à lagoa comprida, ajaezado num burro, para ir construir o
primeiro dique que guardava as águas, encanadas para a primei-
ra central hídrica da minha terra .

Através de tudo isso, conseguia visualizar a minha terra, 
o Castelo, a Senhora do Espinheiro, Aldeia da Serra, a Carval-
ha, a Senhora de Fátima, Gouveia, Arrifana, S. Romão, Vodra,
Santana, e muito mais .

Os meus entes queridos trago-os 
sempre comigo no pensamento 
no coração . 
Eles me abrigam das tempestades 
e me protegem das agruras da vida .

É assim que sempre viajo muito, sem sair de casa .
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