Tenho andado a vasculhar a pente fino a minha casa
da Che TECTO, que tem estado um pouco abando-
nada há vários anos, e nela tenho juntado o lixo de
uma vida .
O lixo, o pó e milhares de papéis, que tenho guar-
dado, para memória futura .
Papéis que vinha juntando, como de um tesouro
precioso se tratasse .
De quando em vez, tenho que ir reciclando essa tral-
ha, por razões de segurança e falta de espaço .
Como no romance de Humberto Ecco, A Maravi-
lhosa Aventura da Princesa Luana,
estou separando os documentos os documentos encon-
trados pelo protagonista do romance , num velho sótão
da família, começando por tirar as camadas exteriores
do espólio .
Ao folhear os papéis do Mário Pedro, num molho da-
tado de 1987, encontrei um artigo publicado no Expre-
sso, com data de 13 de Junho ( que coincidência), onde
eram mostradas algumas fotografias da manif junto à
Av. 5 de Outubro, em frente ao Ministério da Educação .
Numa dela lá estava o Mário Pedro, gesticulando forte-
mente, na cabeça da Manifestação contra a Prova Geral
de Acesso `Universidade .
Em regra, não sou pessoa de chorar,
mas hoje, ao rever a fotografia,
as lágrimas correram rosto abaixo .
E chorei que nem uma Madalena .
Deixei soltar o pranto,
armazenado tantos segundos, minutos, horas, dias e anos,
e assim fiquei, recolhido, recordando e revisitando o meu
filho .
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