sábado, 31 de dezembro de 2016

O FASCÍNIO DOS CAFÉS .

Desde muito novo que fui atraído pelo café e pelos 
cafés .

Não que em criança gostasse de café, café mesmo .

Nessa altura, o café era cevada ,

Ou uma mistura de café, grão torrado, chicória e ce-
vada . Café era coisa de ricos  e escasseava, por cau-
sa da Guerra . Os diferentes lotes de café, dividiam-se
entre as classes sociais prevalecentes - lote espacial,
para os senhores doutores, e lote popular, para o pú-
blico em geral .

Os cafés (havia 3 cafés na minha terra - o de cima, 
o do meio e o de baixo ) . 
O primeiro era por cima do 

consultório do Dr. Melo, 

o grande médico de Seia, que tinha um aparelho de 
Radioscopia, coisa rara, que servia quase todo o -
da Guarda .

Consultório sempre cheio, fregueses habituais, que a 
tuberculose sempre andou de mão dada com a pobreza .

O café de cima, que ficava na parte alta da vila, era o 
que servia os doentes e suas famílias que vinham de
fora, em regra de taxi, e esperavam ser atendidos,  pa-
 ra depois regressarem, noite dentro, às aldeias da região .

Era uma terra com alguma importância social, foi das pri-
meiras a ter electricidade pública em todas as casas .

Mas não íamos ao cheiro do café, mas sim ao cheiro dos 
cromos da bola, a grande atracção da pequenada, onde se 
faziam negócios de grande risco, trocar o Peiroteu pelo 
Barrigana. o Félix pelo Patalino .

Nesse tempo a Selecção de futebol não era ainda muito
conhecida, não havia televisão, e os rádios eram sinal de
abastança .
Era o tempo das cabazadas no Hoquei em Patins, muita 
ganhas por dez ou mais a zero, sempre com a Espanha à
espera de muitos golos de Portugal e de muita porrada .

Raio, Perdigão, Correia dos Santos e Jesus Correia eram 
os maiores daquele tempo .

Os cafés viriam um pouco depois .
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