sábado, 31 de dezembro de 2016

Os cafés e as Tascas .

A ronda dos cafés .

Bem cedo, comecei a acompanhar o meu tio Luís,
por terras e terrinhas da Beira Alta, fazendo a volta 
para encomendar os produtos mais do agrado dos
fregueses, como se de um ritual se tratasse .

O velho tinha uma lata do caraças, e, por vezes che-
gava a piscar-me o olho, e no regresso ia-me ensinan-
do velhos truques de africanista, habituado que esta-
va a conduzir negócios menos claros, fazendo uma pro-
paganda exagerada deste ou daquele artigo, ou entran-
do em grande, quando o assunto não lhe convinha .

E este jogo do gato e do rato repetia.se dezenas ou mes-
mo centenas de vezes, até se verificar o assentimento ou
a desistência de um dos contendores .

O meu tio conhecia bem a região e o itinerário .Visitava
todos os lugares, cafés mais finos, e tascas degradadas,
e sabia como orientar a conversa de acordo com cada
interlocutor .
Havia que aliciá-los com manha e obter sem descanso
uma promessa de encomenda .
Aprendi muita ratice, a ganhar ou a perder cada lance 
deste jogo .

Os beirões são decididos e teimosos, habituados a uma vi-
da dura, mas sabem quando têm algo a ganhar numa par-
tida bem disputada .

Por sua vez, quando se o caminho se torna muito difícil de
continuar, há que desistir ou negociar com vantagem para 
ambos os contendores .

E a escola da vida,

que só a experiência proporciona .
.