domingo, 22 de maio de 2016

A MINHA MÃE .

A minha Mãe era o meu porto 
seguro .

O ancoradouro de muitas das minhas inquietações .

A todos os cinco irmãos acolhia com uma palavra 
amiga, com um olhar bondoso, uma cumplicidade 
terna, num silêncio balbuciado .
Sempre com uma palavra amiga, com um afago pro-
tector .

Era uma pessoa triste, muito marcada, atenta aos nos-
sos anseios, e sofria com todos nós, as agruras de uma 
vida cheia de dificuldades .

   Deixa lá, tudo se vai resolver ...

Representava o contraponto com a austeridade pater-
na, que nos inculcava a austeridade e o rigor necessá-
rios para seguirmos a vencer na vida .

   Queres que eu peça ao teu pai ...

Às vezes, raras vezes, deixava escapar, aqui ou ali um 
queixume magoado .

   Quando era nova gostava de ter sido 
   professora ...

Como se não tivesse em casa cinco filhos para criar, edu-
car e ensinar, constantemente mudando de terra, de li-
ceu ou escola, de amigos, quantas vezes longe do resto da
família .
Sinto-me orgulhoso de a minha Mãe acumular com o pa-
pel de minha professora .

Compensava as suas tristezas, cantando como só ela sabia,
com uma voz divina, que não pedia meças às melhores fa-
distas do seu tempo, sempre disponível para actuar com ami-
gos e familiares .

E desabafava

   Às vezes já me sinto tão cansada ...

Quando vivia no Tortosendo, ou quando ia de férias,
acompanhava a minha Mãe na ida à praça, e depois esperava
por ela para lhe trazer o saco das compras, ladeira acima até
ao cimo da estrada .

Por vezes sinto remorsos, por não lhe ter retribuído um pouco
de paz de espírito e de alegria que eu quisera dar-lhe .

Mas, a minha Mãe partiu cedo, muito antes do seu tempo .
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