Sempre fui cotovia .
Acordava sempre muito cedo,
com medo que o dia fosse pequeno demais
e não chegasse para todas as brincadeiras que
me povoavam o pensamento .
Tanta coisa a inventar,
imensos segredos por descobrir,
Coisas e loisas a encontrar,
vivia num mundo de faz de conta .
Muito para lá da realidade .
Observava monstros, em vez de núvens .
Rostos humanos, nas manchas dos tectos .
Figuras mitológicas nas paredes velhas .
O que me passava pela cabeça .
Se fosse hoje, diriam que era uma criança
hiper activa .
O que acontece,
é que não se pode quebrar as asas da imaginação,
mutilar os impulsos da fantasia,
afogar os sonhos, logo à nascença .
Para isso, temos as grilhetas da
realidade .
Ainda hoje, não consigo atingir o óbvio,
mesmo que esteja descaradamente, mesmo à frente
dos meus olhos .
Mesmo com a minha provecta idade
em que já devia ter juízo,
estou sempre aportado numa saudável meninice .
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