Pedrógão Grande .
Os vendedores de sonhos .
Quanto mais o tempo passa, mais eu sinto aquelas
trágicas sombras cravarem-se no meu espírito,
aquelas manchas negras, de um lado e do outro da
estrada, serão gente, ou apenas as cinzas ali deixa-
das naquela estrada da morte, presas nos automóveis
calcinados, como se tivesse havido uma descida aos in-
fernos .
Será que ainda lá estão os restos mortais, ou apenas
as almas, daqueles que tentavam fugir ao vendaval de
fogo, aprisionados à hora errada, no tempo errado ,
num terrível holocausto à beira da estrada .
Quem se esqueceu deles, quem os guiou para a morte,
quem não envidou esforços para evitar tão macabra fa-
talidade ?.
Como foi possível tão horrendo massacre, em pleno Sec.
XXI, num país que se gaba de ter atingido um tão eleva-
do grau de modernidade .
É fácil agora esgrimir culpas, sacudindo a águas sujas do
capote .
Mas logo, ali mesmo, no trágico local, a culpa foi assacada
a quem não exibiu um ar suficientemente pungente, capaz
de importunar os mais incautos .
Nesta história, fomos todos
culpados .
Não há inocentes .
Como no romance de Hemingway,
o narrador perguntava :
"Se ouvires um sino a tocar,
não perguntes por quem ele dobra,
ele dobra por ti " (e por mim também ).
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