O Professor Ramos,
o meu primeiro treinador de futebol .
Felizmente que havia a Escola, que nos ocupava uma boa
parte do dia .
O Prof. Ramos não era flor que se cheirasse .
Nunca o vi mostrar os dentes . Corria tudo à pancada .Tinha
vários instrumentos que usava para manter a ordem e o me-
do, que usava abundantemente . O filho mais novo, burro de
todo, era o mais sacrificado . Apanhava règuadas, levava com
o ponteiro e era corrido à bofetada .
Tudo isto, até ao intervalo .
Na 2ª. parte da aula, o professor transfigurava-se por imenso,
e ficava completamente diferente .
Era marado pelo futebol .
E a pancadaria tinha deixado de doer .
Preparavam as equipas, em que o nosso Professor escolhia al-
guns do seu agrado para a sua equipa, e eu, e mais dois ou três
que jogavam bem, eram os adversários .
E aquilo jogava-se forte e feio, rasgadinho, rasgadinho, como de
diz lá para o Norte .
O jogo não tinha duração marcada . Acabava quando o Profes-
sor entendia, mas desde que estivesse a ganhar .
Por isso, todos nós deixávamos coiro e cabelo espalhados pelo Es-
tádio improvisado, e batíamos-nos com grande valentia, quantas
das vezes, com as canelas e os joelhos maltratados, e depois tínha-
mos que passar pela revisão dos sapatos ou das botas cardadas, lá
em casa .
As tareias tinham sido completamente esquecidas, as dores já ha-
viam desaparecido .
Era a hora de esperar impacientemente pelo almoço, pois que já
todos sentíamos um buraco no estômago .
Amanhã era outro dia ...
.