Caro Presidente Marcelo .
Voltemos então aos fogos,
que é o que está a dar .
Como é sabido e largamente propagandeado, o Senhor
(desculpe a familariedade) é reconhecidamente um ho-
mem do Norte, das Terras de Basto, que vive paredes
meias com a floresta e o meio rural, e um municipalis-
ta venerado .
Ora, trata-se de uma região pródiga em zonas de flores-
ta .
Estará pois familiarizado com as problemáticas dos fo-
gos florestais e das razões que poderão conduzir siste-
maticamente, todos os anos, ás desgraças que atingem
as pessoas de mais parcos rendimentos e mais fraca ca-
pacidade de luta e resistência a tão graves atribulações, -
designadamente no que respeita ao lento estertor das
comunidades campestres .
De onde surgiu agora o serôdio interesse (será uma pai-
xão doentia ?), pela tragédia que vem assolando o nosso
País, pelo menos desde que alcancei a idade da razão ?.
Não havia fogos lá na sua Terra?
Alguma vez andou a chamuscar-se a
lutar contra as chamas ?.
O Presidente vem agora verter grossas lágrimas de cro-
codilo, a toda as horas, a todos os dias, sobre o leite der-
ramado ?.
Quantas
Conversas em Família
dedicou ao tema, durante quase um década, espalhando
o seu palavreado, que ia sabiamente doseando por todas
as televisões por onde campeou ?.
Sabendo (ou desconhecendo ) a ingência de tão importante
problema na vida de milhões de portugueses,
porque não acudiu ao País atempada e firmemente, tentan-
do valer a sua magistratura de interferência, fazendo ouvir -
a sua respeitada voz, conhecendo-se o estado de emergência
que estávamos correndo, e que foi largamente dado a conhe-
cer dentro e fora de fronteiras .
Mas o seu tempo de antena foi sendo gasto a sedimentar a
sua previsível candidatura à batalha de conquista de um
lugar ao sol,
A Presidência da República .
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