terça-feira, 11 de abril de 2017

A NOSSA GUERRA DELES .

Partiam de madrugada, ainda noite cerrada, a caminho não se sabe 
de quê e para quê, orientados apenas pelo instinto .
Alguns, talvez não regressassem .
No início, não havia qualquer serviço de informações, por mais ru-
dimentar que fosse, não existiam mapas de cobertura do território,
nem fotomapas, nem apoio aéreo, nem pelotão de reconhecimento
Os PelRec, cujos os soldados seriam sempre os primeiros a abater .

O os colonos, onde andavam .

Muitas vezes, andavam aos círculos, perdendo-se nas falsas referên-
cias, nas pistas falsas, outra vezes eram travados por uma ratoeira 
aberta na picada, por uma árvore derrubada, por uma morteirada
atirada ao acaso para cima da patrulha .

Tudo servia para imobilizar o dispositivo, para confundir e baralhar
os incautos soldados, apanhados num turbilhão mortífero .

E onde estavam os africanistas .

A gente leal a Salazar .

Era muito difícil fazer uma guerra nestas condições .

A tropa não estava preparada nem física, nem psíquica, nem estraté-
gicamente para combate tão desigual .
Se havia feridos ou mortos, havia o apoio de um enfermeiro ou um ma-
queiro, e tudo parava à espera de apoio vindo de Luanda ou de uma ba-
se logística que dispusesse de helis, para transportar as vítimas para o 
hospital ou para o cemitério .

E tudo recomeçava do ponto zero  .

E os futuros retornados, estavam a comer chá 
e torradas, a caminho das aulas ou dos escritó-
rios .

A guerra não era deles, nem para eles .

Os turras, como eram chamados os guerrilheiros que lutavam pela inde-
pendência da sua terra, estavam mais bem armados e equipados que os
nossos zonzos militares, militares à força .

Os nossos era um exército de sombras, de fantasmas, gente que não fazia
a mínima ideia do que se estava a passar .

Os angolanos de raça,

Como não tinham os seus parentes e amigos envolvidos nesta matança, 
nem sequer se dignavam socorrer os feridos, nem enterrar os mortos  de 
uma guerra, a que de facto pareciam completamente   alheios .
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