Sou da 1ª. incorporação de 1968 .
Vivi um bocado a guerra, por dentro por fora, embora nunca
tenha sido sido um combatente . Mas a guerra não é só andar
aos tiros, matar e morrer . É também a angústia da espera, o
pavor da incerteza, a dúvida de quem será o primeiro a cair
ou a safar-se, e se ainda continuamos vivos .
Longe de tudo e de todos, sem os meios tecnológicos de infor-
mação, era sobretudo o primado da ausência, o sentimento de
de morrer um bocadinho todos os dias .
Pelo Natal, juntavam-se magotes de mancebos, á espera de man-
dar uma mensagem para os seus familiares e amigos :
Adeus, até ao meu regresso .
Tudo muito à pressa, para caberem mais no boneco .
E lá iam desfilando os rostos cansados, com olheiras, que vigi-
lância era apertada, a noite era longa e mal dormida, sempre à
espera de uma morteirada .
Sorrisos amarelos, de quem ri, com vontade de chorar .
Adeus, até ao meu regresso .
Como paliativos,
existiam os aerogramas, telegramas enviadas por avião,
e o truque das madrinha de guerra, que prometiam juras de amo-
res impossíveis, com o retrato pendurado no fundo do cacifo, ou
na parede nua do aquartelamento .
Quantos sonhos inventados pela imaginação dos soldados carentes
de afecto, que eram a única companhia de tantas almas solitárias .
Em que a amante era a G3 que nunca os abandonava, nos bons e
nos maus momentos .
Adeus, até ao meu regresso .
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