terça-feira, 4 de abril de 2017

ADEUS, até ao meu regresso .

 Sou da 1ª. incorporação de 1968 .

Vivi  um bocado a guerra, por dentro por fora, embora nunca 
tenha sido sido um combatente . Mas a guerra não é só andar 
aos tiros, matar e morrer . É também a angústia da espera, o
pavor da incerteza, a dúvida de quem será o primeiro a cair 
ou a safar-se, e se ainda continuamos vivos .

Longe de tudo e de todos, sem os meios tecnológicos de infor-
mação, era sobretudo o primado da ausência, o sentimento de
de morrer um bocadinho todos os dias .

Pelo Natal, juntavam-se magotes de mancebos, á espera de man-
dar uma mensagem para os seus familiares e amigos :

Adeus, até ao meu regresso .

Tudo muito à pressa, para caberem mais no boneco .
E lá  iam desfilando os rostos cansados, com olheiras, que vigi-
lância era apertada, a noite era longa e mal dormida, sempre à 
espera de uma morteirada .

Sorrisos amarelos, de quem ri, com vontade de chorar .

Adeus, até ao meu regresso .

Como paliativos,
existiam os aerogramas, telegramas enviadas por avião, 

e o truque das madrinha de guerra, que prometiam juras de amo-
res impossíveis, com o retrato pendurado no fundo do cacifo, ou 
na parede nua do aquartelamento .

Quantos sonhos inventados pela imaginação dos soldados carentes 
de afecto, que eram a única companhia de tantas almas solitárias .

Em que a amante era a G3 que nunca os abandonava, nos bons e
nos maus momentos .

Adeus, até ao meu regresso .

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