Nunca ninguém os soube contar .
Cem mil fugidos ao Serviço Militar .
8 Mil desertores .
Quase um milhão de soldados feitos à pressa,
feridos e estropiados às dezenas de milhares .
Mortos, em todos os lares de Portugal .
Apanhados na vertigem do stress pós traumático .
Lares desestruturados sem conta .
Pais que ficaram sem filhos .
Filhos que não chegaram a conhecer os pais .
Um País dilacerado, migado aos pedaços, desconjuntado,
sem passado e sem futuro .
Portugal empobrecido pela falta de muitos dos maia aptos,
dos mais capazes, País sempre ferido, sempre adiado, exau-
rido, roído até ao osso .
E a raiva dos que passaram pela guerra, a dor dos que fica-
ram, a saudade dos que partiram, e a ira e a incompreensão
dos que foram obrigados a retornar .
E tudo foi cicatrizando lenta e dolorosamente, suportando
o enorme choque social, psicológico, económico e político, de
que ainda não recuperamos totalmente .
É muito para um povo enorme, fechado num País tão peque-
no e tão desgraçado .
A minha geração viveu tudo isso e muito mais, sem um pio,
mas com uma revolta do tamanho do Mundo .
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