A doença silenciosa .
O cerco vai-se apertando à minha volta .
Vai-se insinuando lenta mas progressivamente, apanha os
pacientes sorrateiramente, insinua-se como se de nada se
tratasse .
Aos primeiros sinais, a princípio a gente faz de conta que
só apanha os outros, como se isso não fosse nada com a
gente .
Julgamos que as coisas são fáceis de controlar .
Custa admitir uma verdade, mesmo que ela se meta pelos ol-
hos dentro . O maior cego é aquele que não quer ver .
Pelo caminho vamos lidando com meias palavras, falsas pro-
messas, paninhos quentes, uma miríade de argumentos que nos
vão alertando . Pomos água na fervura . Navegamos em águas
turvas .
Encaramos a doença com alguma altivez .
Vem isto a propósito da minha luta contra
os Diabetes,
uma luta complicada, sem inimigo à vista, e travada à traição .
Já há bastante tempo me diziam que era pré diabético, como se
isso não fosse já uma declaração de guerra, o início de uma ba-
talha lenta, mas inexorável . Diziam-me para ter cuidado, para
seguir as regras, evitar o açúcar, a obesidade, fazer muito exer-
cício, beber muitos líquidos, mas eu começava um regime alimen-
tar, aos poucos, ia baixando as defesas, e logo voltava quase ao
de partida . Acabava muitas vezes por pisar os limites .
E depois voltava sempre ao princípio, ou quase sempre mais atrás .
É aí que tem que prevalecer a disciplina
e a força de vontade .
E depois aparecem os falsos profetas, dando conselhos de truques
de novas dietas, quantas vezes ao arrepio do caminho adequado .
Tantas vezes que me davam receitas, mèzinhas salvadoras, chás
milagrosos ou um novo exercício físico .
E eu, na fé dos ignorantes, andava sempre a experimentar novos
esquemas, mas continuava a viver confuso e baralhado .
Até que resolvi encarar a doença mais a peito,
e assumir, de uma vez por todas,
que sou diabético,
disposto a arcar com todas as responsabilidades que tal facto
implica .
Para aviso a todos os diabéticos .
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