quinta-feira, 27 de abril de 2017

O TERRÍVEL DILEMA .

Foi uma época difícil da minha vida .
A Guerra Colonial acompanhou-me durante o meu curso
inteiro .
Começada em 1961, estender-se-ia por toda uma eternidade .
A continuação dos estudos dava-me uma certa margem de se-
gurança, podia ser que a guerra não demorasse muito .

Mas, à medida que o tempo encurtava, e tinha que fazer sem-
pre as cadeiras  todas, ia aumentando a minha angústia, e via os
amigos mais velhos partir para a guerra, e outros, embora em
menor número, a desaparecer do mapa, e a fugir para longe, es-
capando ao Serviço Militar .

Era evidentemente uma opção de classe e também uma escolha
de classe, mas era sobretudo uma decisão interior profunda, ir
combater numa guerra injusta, para não dizer imoral, ou ficar e
arcar com todas as consequências de tal gesto .

Passávamos horas intermináveis a discutir os prós e os contras,
milhares de vezes, o que poderia ser o nosso futuro, e qualquer
das hipóteses de escolha, era muito difícil de sustentar .

Havia quem arranjasse maneiras de ir alongando o tempo de estu-
do, tentando uma carreira académica, uma especialização no estran-
geiro, uma selecção para um lugar numa empresa ou num serviço,
considerados de grande utilidade para os desígnios da Pátria, hou-
ve muita malta graúda, que aguardava uma incorporação numa data
e numa posição mais favoráveis, e houve tanta outra gente que, sim-
plesmente se pirasse para bem longe .

Então, que fazer ?...

Acabei por ficar .

Acabei por tentar jogar na roleta russa, e ganhei .

A sorte iria contemplar os a minha audácia ..

Cumpri um longuíssimo tempo de tropa, 
mas como Oficial Miliciano, na especialidade de FOTO CINE,
onde militariam quase todos os artistas da guerra .
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