terça-feira, 16 de maio de 2017

CRÓNICA DE UM DIA ASSIM .

Volto ao tempo dos silêncios prolongados, em que é preciso
treinar a imaginação, para o tempo passar mais depressa .
Frequento agora outros espaços cheios de gente, na aparência,
mas vazios de pessoas, quais peças de um mecanismo de reló-
gio, que marca os gestos automáticos, repetidos vezes sem con-
ta,como se se tratasse de uma máquina invisível, que labora sem
parar e sem destino certo .

Trabalha simplesmente .

Surge-me outra vez, a imagem do formigueiro (ou da colmeia),
funcionando na perfeição, sem qualquer desígnio especial .

Retomo os exercícios do Sudoku e das Palavras Cruzadas e ou-
tros jogos que tais, que ajudam no treino das mãos e da cabeça,
só com o prazer de encontrar soluções avulsas .
E logo surge um, após o outro .

Para os Quebra Cabeças da vida, é que é 
mais difícil achar soluções dentro de nós .

E não é nada fácil .

Estamos sempre muito ocupados com a nossa própria vida, com 
os nossos problemazinhos insolúveis, emperrados na nossa própria
narrativa, em que  os mais cegos, são sempre os que não querem 
ver, sempre na busca de soluções milagrosas .

As pessoas fogem da solidão, como o diabo da cruz, mas odeiam a
partilha, seja do que for . Ficam sempre a meio da ponte entre o me-
do e o desejo .

Deste modo, albergam-se no nada, no vazio, 
avidamente .

Enrolam-se dentro de si próprias, remoendo os mistérios da sua exis-
tência, e devorando sem parar, a sua própria solidão .

Nesse cenário, não correm riscos . 

Só o risco de viver .
.