Quando era miúdo,
o que eu inventava para me distrair, não
quieto, diziam que eu tinha bichos carpin-
teiros (?...) .
Nunca tive qualquer brinquedo, brinquedos fabricava-os
eu, com uma faca de sapateiro, objecto perigoso e proibi-
do - fruto proibido, sempre foi o mais apetecido .
Quando caí doente, aos 6 anos, era obrigado a fazer repou-
so, deitado no andar de cima da casa do meu avô, com o
tecto envelhecido e manchado, pelos pingos da chuva que
se escapavam do telhado, nos longos Invernos da Serra da
Estrela .
Passava o tempo a inventar e a descobrir figuras no sobra-
do, umas quase reais, outras completamente fantasmagóri-
cas .
( Mas via mesmo, não eram visões, nem alucinações ).
Com essas imagens, construía lentamente o eu Mundo, real
ou imaginário .
A distracção era fácil e barata .
Mais tarde, experimentei as gotas da chuva, a escorrer pelas
vidraças, os riscos pelo bafo do produzido pelo frio das jane-
las, o movimento desenfreado das nuvens que percorriam o
céu, com pressa de chegar ao mar .
Mais velho, usei como paleta, as paredes carcomidas de Lis-
boa, percorrendo os bairros velhos, maravilhado com as gra-
vuras que encontrava nas camadas de tinta e cal, marcadas
nos prédios sujos e escaqueirados .
(Que Whills viria a descobrir também,
mais tarde ?) .
Mais recentemente, já na minha segunda juventude dos meus
ralos cabelos brancos, andei a brincar às Paisagens da Serra
da Estrela, brincando com pequenos pauzinhos, cascas das ár-
vores, sementes, flores e bagas, que enxameiam os Jardina de
Telheiras .
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