domingo, 14 de maio de 2017

O CAÇADOR DE SONHOS .

Quando era miúdo, 
o que eu inventava para me distrair, não 
quieto, diziam que eu tinha bichos carpin-
teiros (?...) .

Nunca tive qualquer brinquedo, brinquedos fabricava-os
eu, com uma faca de sapateiro, objecto perigoso e proibi-
do - fruto proibido, sempre foi o mais apetecido .

Quando caí doente, aos 6 anos, era obrigado a fazer repou-
so, deitado no andar de cima da casa do meu avô, com o
tecto envelhecido e manchado, pelos pingos da chuva que
se escapavam do telhado, nos longos Invernos da Serra da
Estrela .

Passava o tempo a inventar e a descobrir figuras no sobra-
do, umas quase reais, outras completamente fantasmagóri-
cas .
( Mas via mesmo, não eram visões, nem alucinações ).

Com essas imagens, construía lentamente o eu Mundo, real
ou imaginário .

A distracção era fácil e barata .

Mais tarde, experimentei as gotas da chuva, a escorrer pelas
vidraças, os riscos pelo bafo do produzido pelo frio das jane-
las, o movimento desenfreado das nuvens que percorriam o 
céu, com pressa de chegar ao mar .

Mais velho, usei como paleta, as paredes carcomidas de Lis-
boa, percorrendo os bairros velhos, maravilhado com as gra-
vuras que encontrava nas camadas de tinta e cal, marcadas
nos prédios sujos e escaqueirados .

(Que Whills viria a descobrir também, 
mais tarde ?) .

Mais recentemente, já na minha segunda juventude dos meus 
ralos cabelos brancos, andei a brincar às Paisagens da Serra
da Estrela, brincando com pequenos pauzinhos, cascas das ár-
vores, sementes, flores e bagas, que enxameiam os Jardina de 
Telheiras .
.